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sábado, 15 de outubro de 2011

Câmbio Automático ou Automatizado?

"Não é automático, é au-to-ma-ti-za-do", esforçavam-se em explicar os engenheiros da GM no lançamento da Meriva Easytronic, em 2007. No ano seguinte, a Fiat e a Volkswagen aderiram ao sistema que dispensa o pedal da embreagem e é mais barato do que um câmbio automático convencional. Mas a diferença entre uma transmissão automática e uma automatizada nem sempre é simples de explicar. Experimente ir a uma concessionária Fiat, Volkswagen ou GM e perguntar para um vendedor sobre esses câmbios. A resposta em muitos casos é a mesma: "É igual a um automático". Justamente o oposto da mensagem que a GM queria difundir.



Na essência, o automatizado é um câmbio manual com uma diferença: ele tem dois pequenos robôs (por isso também é chamado de robotizado), ou atuadores. Quando a central eletrônica detecta a necessidade de troca de marcha, o primeiro atuador aciona a embreagem e o segundo direciona o garfo de mudanças para engrenar as marchas.
Como ele não tem o complexo e caro conversor de torque, presente nas transmissões automáticas, é mais barato - em geral, a metade do cobrado por um automático, algo em torno de 2500 reais. A manutenção também é mais simples: a embreagem e as engrenagens são as mesmas ou possuem poucas alterações em relação ao manual.

Olho na borboleta

"A central eletrônica avalia variáveis como rotação, temperatura e velocidade, por exemplo. Diante disso, é feita a escolha da melhor marcha a ser engatada. O sistema atua, inclusive, na borboleta de ar, mudando a rotação do motor durante a troca", afirma Ricardo Dilser, assessor técnico da Fiat.
Diferentemente de um câmbio automático, que possui um trilho característico com as posições P (de "parking", estacionamento), R (ré), N (neutro, ou ponto-morto) e D (drive), o automatizado só tem as posições N, R e D. No entanto, todos até agora possuem a tecla S (de Sport, que faz as trocas em rotações mais elevadas) e, com um toque na alavanca para a esquerda, as mudanças passam a ser manuais. Por questão de segurança, a partida é dada sempre em N, com o motorista pisando no freio.
Mas, como nem tudo é perfeito, o automatizado possui um ponto fraco. "Em geral, os motoristas acham que o automatizado e o automático podem ser dirigidos da mesma forma, o que não é totalmente verdade", diz Antônio Gaspar, diretor-técnico do Sindirepa-SP (sindicato da oficinas de São Paulo). "Num automático, dirige-se o tempo inteiro com o pé no acelerador. No câmbio manual, é preciso tirar o pé para a troca. O automatizado faz isso pelo motorista, e é por isso que a rotação do motor cai de repente e surge o tranco, a grande queixa dos proprietários", diz.
Alguns motoristas já perceberam esse macete. O analista de informática Vinícius Branco Silva, 27 anos, tem três carros: um Kia Picanto automático e um VW Fox e uma SpaceFox, sendo estes dois automatizados. "Comecei a tirar o pé na hora em que eu sabia que o carro ia fazer a troca. Assim o tranco acaba sendo bem menor", diz.
Vinícius já teve vários problemas com a Space- Fox - o carro falhava na hora da partida, mesmo com todos os procedimentos corretos. Em outras, ao ligar em N, o veículo já saía andando. "Foram várias idas e vindas à oficina, até que trocaram o módulo eletrônico. Agora está tudo certo e estou satisfeito", afirma ele, que pretende trocar o Picanto por mais um automatizado. "Gostei muito da economia, tanto no preço dos equipamentos quanto no consumo de combustível", afirma.
O comentário de Vinícius toca em outro diferencial do sistema: o consumo, que tende a ser menor (igual ao de um manual) se comparado ao de um automático, pois ele é cerca de 70 kg mais leve e não sofre perda de potência causada pelo conversor de torque.
Segurando com o pé

Se a dirigibilidade não chega a ser um defeito grave, há aspectos que exigem atenção. Enquanto um automático pode ser retido na ladeira somente acionando o acelerador, sem problema, num automatizado isso não deve ser feito. Assim como numa transmissão manual, o procedimento forçaria a embreagem, o que vai reduzir sua vida útil. Outro ponto polêmico diz respeito à troca do óleo do câmbio. Consultadas, Fiat e Volkswagen dizem que as transmissões usam lubrificante "long life", que dispensa troca. Mas, na prática, mecânicos de oficinas independentes dizem que não é bem assim. "O óleo do câmbio, se não estiver em boas condições, pode comprometer o funcionamento do sistema", diz Gaspar.
É fácil entender: como o sistema tem acionamento hidráulico, o surgimento de impurezas compromete a ação dos atuadores e pode até entupir a tubulação. "Ao abrir a porta do carro, ouve-se um ruído que parece um zumbido. É a bomba de óleo pressurizando o sistema do câmbio", afirma Gaspar. Portanto, é necessário fazer checagens do óleo com regularidade para saber se ele está em ordem. O kit de embreagem de um automatizado também é mais caro, chega a custar o dobro (veja os preços ao lado). E, por ser uma tecnologia nova, não é qualquer oficina que sabe mexer nesse equipamento, o que obriga o dono a recorrer às concessionárias até que o sistema se popularize.
Sensores sensíveis

Segundo os mecânicos ouvidos, o carro com maior número de reclamações é a Meriva Easytronic. "O câmbio da Meriva tem apresentado problemas e nem sempre o conserto é simples", diz o mecânico Pedro Scopino, consultor técnico do Sindirepa e professor do Senai. O tema já foi até assunto da seção Autodefesa publicada em novembro de 2010, relatando casos de taxistas que trocam o automatizado por uma caixa manual. Na ocasião, a GM dizia que os defeitos eram "pontuais" e não se referiam à quebra do câmbio.
Que defeitos são esses? "O carro para de funcionar ou não troca as marchas", diz Scopino. "Às vezes, é apenas um sensor sujo ou solto, mas pode ser algo grave, pois o automatizado usa óleos e peças específicos, que são bem mais caros", diz.
Na prática, portanto, o discurso de que "é igual ao manual na manutenção" não é bem assim. Não que os outros câmbios estejam isentos do problema - também publicamos reportagens sobre falhas de funcionamento do Fiat Dualogic (abril de 2011) e do VW I-Motion (junho de 2011). Fornecedores de autopeças, no entanto, afirmam que a Meriva deve em breve ganhar um novo automatizado.
Outra movimentação está ocorrendo nos bastidores da Fiat. Mas o foco não são os defeitos e sim o preço: a marca italiana está desenvolvendo um câmbio automatizado mais barato que o atual. O objetivo, segundo uma fonte de dentro da empresa, é "chegar a um valor que permita a aplicação do câmbio até no Uno 1.0, se for o caso".
Entre prós e contras, vale ter um automatizado?

Na maior parte dos casos, a resposta é sim. No entanto, o motorista deve lembrar que pagou menos do que desembolsaria por um automático e que está dirigindo um carro diferente, que não é manual nem automático. É au-to-ma-ti-za-do.



FONTE: QUATRO RODAS